- O canabidiol (CBD), amplamente usado por seus efeitos terapêuticos, é metabolizado no fígado, o que levanta preocupações sobre sua segurança hepática. Em geral, o CBD é bem tolerado, mas pode provocar aumento temporário de enzimas como ALT e AST, sem indicar lesão grave.
- O risco ao fígado aumenta com doses elevadas (acima de 1000 mg/dia), uso prolongado, combinação com outros medicamentos metabolizados pelas mesmas enzimas e em pessoas com doenças hepáticas.
- Grupos como pacientes com doenças hepáticas, usuários de múltiplos medicamentos, pessoas com histórico de alteração enzimática e gestantes devem usar CBD com cautela.
- Estudos mostram que o CBD em doses moderadas é seguro e pode até oferecer benefícios ao fígado, graças a seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes. No entanto, esses potenciais ainda estão em investigação.
O canabidiol (CBD), um dos principais compostos da cannabis medicinal, tem ganhado destaque nos últimos anos por seus potenciais efeitos terapêuticos no tratamento de condições como ansiedade, epilepsia, dor crônica e inflamações.
No entanto, como o CBD é metabolizado principalmente pelo fígado — órgão essencial na filtragem de substâncias no organismo — surge uma dúvida comum entre pacientes e profissionais de saúde: será que o uso de CBD pode afetar a saúde hepática?
Neste artigo, vamos explorar o que a ciência já descobriu sobre a relação entre CBD e o fígado, os possíveis riscos, os fatores que exigem atenção e quais cuidados tomar para garantir um uso seguro.
Como o CBD age no fígado? Entenda seu metabolismo
Quando o canabidiol (CBD) é ingerido por via oral — seja em cápsulas, óleos ou comestíveis — ele passa inicialmente pelo trato gastrointestinal e, em seguida, é absorvido pela corrente sanguínea. A partir daí, o composto é levado ao fígado, onde ocorre o metabolismo do CBD, etapa essencial para sua eliminação do organismo.
No fígado, o CBD é processado principalmente pelas enzimas da família citocromo P450 (CYP450) — um grupo de enzimas que também metaboliza diversos medicamentos comuns, como antidepressivos, anticonvulsivantes, anticoagulantes e analgésicos. Essas enzimas transformam o CBD em metabólitos hidrossolúveis, facilitando sua excreção principalmente pelas fezes e urina.
Durante esse processo, é possível observar aumento temporário das enzimas hepáticas, como ALT (alanina aminotransferase) e AST (aspartato aminotransferase), marcadores que geralmente são usados para monitorar a função do fígado em exames laboratoriais.
Esses aumentos, no entanto, nem sempre indicam lesão hepática real, podendo ser apenas uma resposta adaptativa do organismo ao processamento de uma substância externa.
O que pode aumentar o risco de danos hepáticos com o uso de CBD?
A forma como o fígado reage ao canabidiol (CBD) varia de pessoa para pessoa, e alguns fatores aumentam o risco de sobrecarga hepática ou alterações nas enzimas do fígado. Os principais são:
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Dose ingerida: Quanto maior a dose de CBD, maior a carga de trabalho para o fígado metabolizar a substância. Doses muito elevadas — especialmente acima de 1000 mg/dia — têm maior probabilidade de provocar elevações nas enzimas hepáticas, o que pode indicar inflamação ou estresse hepático.
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Frequência e tempo de uso: O uso contínuo e por períodos prolongados pode levar ao acúmulo de metabólitos e exigir maior esforço do fígado ao longo do tempo. Por isso, é importante avaliar regularmente a função hepática em tratamentos de longa duração.
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Uso concomitante de medicamentos: Muitos medicamentos são metabolizados pelas mesmas enzimas hepáticas que processam o CBD (como as do sistema citocromo P450). Quando usados juntos, pode ocorrer interação medicamentosa, dificultando a metabolização eficiente de uma ou ambas as substâncias, o que aumenta o risco de toxicidade.
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Condições pré-existentes no fígado: Pessoas com hepatite, esteatose hepática (fígado gorduroso), cirrose ou outras disfunções hepáticas já têm um fígado comprometido. Nesses casos, a capacidade de metabolizar o CBD pode estar reduzida, elevando o risco de efeitos adversos mesmo em doses consideradas seguras para a maioria das pessoas.
Quem deve evitar ou ter cautela no uso de CBD?
Embora o canabidiol (CBD) seja geralmente bem tolerado, alguns grupos de pessoas devem ter cuidado redobrado, principalmente por conta de possíveis efeitos no fígado ou interações com outros medicamentos. Confira os principais perfis de risco:
- Pessoas com doenças hepáticas crônicas (como hepatite ou cirrose): Como o fígado é o principal órgão responsável por metabolizar o CBD, qualquer condição que comprometa sua função pode aumentar o risco de efeitos adversos. Nesses casos, mesmo doses moderadas devem ser avaliadas com cautela, e exames de função hepática precisam ser realizados com frequência.
- Pessoas que usam muitos medicamentos ao mesmo tempo: O CBD pode interferir no metabolismo de diversos fármacos que também são processados pelas enzimas hepáticas, especialmente os antidepressivos, anticoagulantes, anticonvulsivantes e anti-inflamatórios. Essa interação pode aumentar ou reduzir a eficácia dos medicamentos ou do próprio CBD, além de sobrecarregar o fígado.
- Pacientes com histórico de alterações nas enzimas hepáticas (ALT, AST, GGT): Pessoas que já apresentaram elevações inexplicadas ou persistentes dessas enzimas podem ter maior sensibilidade ao uso de substâncias metabolizadas pelo fígado. O uso de CBD nesses casos deve ser cuidadosamente monitorado, mesmo em doses baixas.
- Gestantes e lactantes: Ainda não existem estudos conclusivos sobre os efeitos do canabidiol durante a gravidez e o período de amamentação. Por precaução, a maioria das diretrizes médicas não recomenda o uso de CBD nessas fases, salvo em casos muito específicos e com orientação médica rigorosa.
O CBD pode interferir em exames laboratoriais?
Sim. Em alguns casos, o uso de CBD pode causar uma elevação temporária das enzimas hepáticas, como ALT e AST, especialmente nas primeiras semanas de uso. Essa alteração nem sempre indica um problema de saúde, mas pode refletir o processo natural de metabolização do canabidiol pelo fígado.
Por isso, é recomendável realizar exames de função hepática com regularidade, principalmente em tratamentos contínuos ou com doses mais elevadas — sempre com acompanhamento médico.
Estudos científicos: o que se sabe sobre o CBD e o fígado?
Nas últimas décadas, o uso terapêutico do canabidiol (CBD) despertou o interesse da comunidade científica, inclusive no que diz respeito à sua relação com a saúde hepática.
Como o fígado é o principal órgão responsável pela metabolização do CBD, diversos estudos vêm investigando seus possíveis efeitos colaterais e, por outro lado, seus potenciais benefícios em doenças do fígado.
A seguir, destacamos algumas das pesquisas mais relevantes sobre o tema, com base em dados clínicos, experimentais e revisões sistemáticas.
1.Cannabidiol-associated hepatotoxicity: A systematic review and meta-analysis
Este estudo de revisão sistemática e meta-análise avaliou a associação entre o uso de CBD e a elevação de enzimas hepáticas, além da ocorrência de lesão hepática induzida por medicamentos (DILI). Os pesquisadores analisaram dados de diversos ensaios clínicos para entender melhor o impacto do CBD na função hepática.
Os resultados revelaram que doses elevadas de CBD (igual ou superiores a 1000 mg por dia) — especialmente quando associadas ao uso de fármacos como o valproato de sódio — aumentam significativamente o risco de elevação das enzimas hepáticas, o que pode indicar sobrecarga ou inflamação no fígado.
No entanto, o estudo também aponta que não foram registrados casos de hepatotoxicidade clínica (como hepatite ou insuficiência hepática) em adultos que utilizaram doses inferiores a 300 mg por dia. Isso reforça a conclusão de que, dentro das faixas terapêuticas mais comuns, o CBD tende a ser bem tolerado pelo fígado, sem provocar danos significativos.
2. The Role of Cannabidiol in Liver Disease: A Systematic Review
Esta revisão sistemática analisou estudos pré-clínicos e clínicos que investigam o papel do canabidiol (CBD) no tratamento de doenças hepáticas, como esteatose hepática, inflamação crônica e câncer de fígado.
Os autores destacaram que o CBD apresenta potencial terapêutico promissor, especialmente por sua capacidade de modular o metabolismo lipídico hepático e induzir a apoptose (morte programada) de células tumorais. Além disso, os efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes do CBD foram considerados relevantes na proteção do fígado contra lesões crônicas.
Embora os resultados apontem para benefícios importantes, a revisão ressalta que ainda faltam estudos clínicos robustos em humanos que comprovem com segurança esses efeitos em larga escala. Portanto, o uso do CBD para doenças hepáticas deve ser visto como um recurso complementar em investigação, e sempre com orientação médica.
3. Metabolism and Liver Toxicity of Cannabidiol
Este estudo revisou os dados disponíveis sobre o metabolismo do canabidiol no fígado e seus possíveis efeitos colaterais hepáticos. Os autores explicam que o CBD é metabolizado principalmente pelas enzimas do sistema citocromo P450, as mesmas que processam diversos medicamentos.
A pesquisa apontou que, em doses elevadas ou em combinação com outros fármacos hepatotóxicos, o CBD pode provocar aumentos nos níveis de enzimas hepáticas, como ALT e AST. No entanto, o estudo também destaca que, em doses terapêuticas usuais, o canabidiol apresenta baixo risco de toxicidade hepática, sendo considerado seguro para a maioria dos pacientes, desde que haja acompanhamento médico adequado.
Importante destacar que, segundo o LiverTox — banco de dados mantido pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) —, não há evidências consistentes de que o CBD isolado, utilizado em doses moderadas, cause lesão hepática significativa em humanos.
O recurso ressalta que o canabidiol é geralmente bem tolerado e que não foram relatados casos de hepatite com icterícia ou falência hepática relacionados exclusivamente ao seu uso.
Considerações finais
O canabidiol (CBD) tem se mostrado, em geral, seguro e bem tolerado pelo fígado, desde que utilizado dentro de doses terapêuticas e sob acompanhamento médico. Embora estudos indiquem que altas doses ou o uso em associação com medicamentos hepatotóxicos possam provocar aumento temporário das enzimas hepáticas, esses efeitos nem sempre indicam lesão hepática grave.
Além disso, pesquisas recentes também apontam para possíveis benefícios do CBD na saúde do fígado, graças às suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e moduladoras do metabolismo lipídico — embora essas aplicações ainda estejam em fase de investigação.
De modo geral, o uso de CBD deve ser individualizado, especialmente em pessoas com doenças hepáticas pré-existentes ou em uso de múltiplos medicamentos. Exames de função hepática periódicos e acompanhamento profissional são essenciais para garantir um tratamento seguro e eficaz.
Quando utilizado com responsabilidade, o CBD representa uma opção promissora na medicina integrativa, com potencial terapêutico crescente e um perfil de segurança que inspira confiança.

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O canabidiol (CBD) faz mal ao fígado?
Em geral, o CBD é considerado seguro para o fígado quando utilizado em doses terapêuticas e com acompanhamento médico. Pode causar aumento temporário de enzimas hepáticas, mas isso não significa necessariamente dano hepático. O risco aumenta com doses altas ou em pessoas com doenças hepáticas pré-existentes.
O CBD pode causar problemas no fígado?
Sim, em doses muito altas (acima de 1000 mg por dia), o CBD pode sobrecarregar o fígado e causar elevações nas enzimas hepáticas. Isso é mais comum quando usado por longos períodos ou em combinação com medicamentos que também são metabolizados no fígado.
Quem deve evitar o uso de CBD?
Pessoas com doenças hepáticas crônicas, usuários de múltiplos medicamentos, pacientes com histórico de alterações nas enzimas hepáticas e gestantes ou lactantes devem usar CBD com cautela e sempre com orientação médica.
O CBD interfere em exames de sangue do fígado?
Sim, o uso de CBD pode causar alterações temporárias nos níveis de ALT e AST, que são enzimas hepáticas. Por isso, é importante fazer exames de função hepática periodicamente durante o tratamento com CBD.
O CBD interage com outros medicamentos?
Sim. O CBD é metabolizado pelas enzimas do citocromo P450, as mesmas envolvidas na metabolização de muitos medicamentos, como antidepressivos, anticoagulantes e anticonvulsivantes. Isso pode interferir na eficácia dos medicamentos e aumentar o risco de efeitos adversos.
Quais são os efeitos colaterais do CBD no fígado?
O principal efeito colateral relacionado ao fígado é o aumento temporário das enzimas hepáticas, que pode indicar inflamação ou sobrecarga. Em geral, esses efeitos são leves e reversíveis, especialmente em doses baixas.
O CBD pode ser benéfico para o fígado?
Estudos preliminares sugerem que o CBD pode ter efeitos protetores no fígado, como ação anti-inflamatória e antioxidante, e possível uso em condições como esteatose hepática e inflamação crônica. No entanto, esses usos ainda estão em fase de pesquisa.
É seguro usar CBD por longos períodos?
Sim, desde que seja em doses adequadas e com monitoramento médico regular, especialmente da função hepática. O uso prolongado requer atenção, principalmente em pessoas com maior risco de sobrecarga hepática.