- A cannabis medicinal é uma alternativa mais segura aos opioides no tratamento da dor crônica. Os canabinoides interagem com o sistema endocanabinoide, modulando a dor de forma eficaz, com menor risco de dependência e efeitos colaterais graves, permitindo até a redução da dose de opioides.
- Os opioides são altamente eficazes, mas apresentam alto risco de dependência e overdose. Eles agem nos receptores µ-opioides do sistema nervoso central, proporcionando alívio intenso da dor, mas com rápida tolerância, exigindo doses cada vez maiores, o que aumenta o risco de abuso e morte por depressão respiratória.
- A crise dos opioides é um problema global de saúde pública. O uso excessivo e indiscriminado desses medicamentos levou a uma epidemia de dependência e mortes por overdose, especialmente nos EUA e Canadá, com destaque para o impacto do fentanil e outros opioides sintéticos.
- Estudos indicam que a cannabis pode reduzir a necessidade de opioides. Pesquisas mostram que pacientes que utilizam cannabis para dor crônica frequentemente diminuem o consumo de opioides, reduzindo o risco de dependência e os efeitos adversos associados a essas substâncias.
- A cannabis medicinal tem um perfil de segurança mais favorável. Enquanto os opioides podem causar sedação intensa, depressão respiratória e abstinência severa, a cannabis pode ocasionar efeitos leves, como boca seca e sonolência, sem risco fatal, tornando-se uma alternativa viável para o manejo da dor.
A dor crônica é um dos sintomas mais debilitantes vivenciados tanto por pacientes oncológicos quanto por pessoas com outras condições graves, sendo frequentemente tratada com opioides. Embora eficazes, esses medicamentos apresentam alto potencial de dependência e efeitos colaterais graves, o que estimula a busca por terapias mais seguras.
Nesse cenário, a cannabis medicinal vem ganhando destaque como alternativa promissora. Suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias podem fornecer um perfil de segurança mais favorável, reduzindo os riscos relacionados ao uso prolongado de analgésicos opiáceos.
A comparação entre o uso de cannabis e opioides no manejo da dor envolve diversos aspectos, como eficácia analgésica, mecanismo de ação, perfil de efeitos colaterais e risco de dependência.
Antes de explorarmos essas diferenças, é fundamental compreender a chamada “crise dos opioides” – um problema de saúde pública que ilustra os riscos associados ao uso indiscriminado dessas substâncias.
O que é a crise dos opioides?
Trata-se de um fenômeno de saúde pública marcado pelo aumento expressivo no uso indevido, pela dependência e pelas mortes por overdose de medicamentos opioides – tanto aqueles prescritos quanto os ilícitos.
Embora esse problema tenha se originado principalmente em países como Estados Unidos e Canadá, ele tem preocupado autoridades de diversas partes do mundo.
Os opioides apresentam alto potencial de dependência. Com o uso contínuo, o organismo desenvolve tolerância, exigindo doses cada vez maiores para produzir o mesmo efeito analgésico.
Além disso, o excesso de prescrições contribuiu para que esses medicamentos fossem desviados para uso recreativo ou mesmo para a venda ilegal, ampliando ainda mais o problema.
A crise resultou em centenas de milhares de mortes por overdose, sobretudo envolvendo fentanil e outras substâncias sintéticas ainda mais potentes.
Apesar de alguns países já terem alcançado progressos na redução de prescrições abusivas e no tratamento de pessoas afetadas, a crise dos opioides permanece um desafio global.
Comparação entre o uso de cannabis e opioides
1.Mecanismo de Ação
Na farmacologia, o termo mecanismo de ação refere-se à interação bioquímica específica por meio da qual uma substância produz seu efeito farmacológico. Geralmente, esse mecanismo envolve um alvo molecular específico ao qual a droga se liga, como uma enzima ou um receptor celular.
- Opioides: Atuam nos receptores opioides, especialmente nos μ-opioides, localizados no cérebro e na medula espinhal. Essa ligação bloqueia a percepção da dor e promove uma analgesia intensa.
- Cannabis: Os canabinoides, como THC e CBD, interagem com o sistema endocanabinoide, modulando a percepção da dor. Esse efeito ocorre principalmente pela ativação dos receptores CB1 (presentes no sistema nervoso central) e CB2 (localizados no sistema imunológico e periférico).
Enquanto os opioides agem primariamente em receptores µ (mu) no sistema nervoso central, os fitocanabinoides (especialmente THC e CBD) atuam nos receptores CB1 e CB2, modulando dor, inflamação e outras funções fisiológicas.
Essa diferença de mecanismos pode potencializar o alívio de dor quando ambas as classes são utilizadas simultaneamente, reduzindo a dose necessária de opioides.
2.Eficácia no controle da dor
O controle da dor pode ser realizado por meio de diversas abordagens, incluindo medicamentos, fisioterapia, massagens, compressas e outras terapias complementares.
A eficácia do tratamento varia de acordo com fatores como o tipo de dor, a resposta individual do paciente e a combinação adequada dessas estratégias.
- Opioides: São altamente eficazes no alívio de dores agudas e intensas, como aquelas decorrentes de cirurgias ou do câncer. No entanto, o uso prolongado pode levar à tolerância, exigindo doses cada vez maiores para manter o efeito analgésico, além do risco significativo de dependência.
- Cannabis: Mostra-se eficaz no tratamento de dores neuropáticas, inflamatórias e crônicas, oferecendo alívio com menor risco de tolerância e dependência em comparação aos opioides. Seu efeito está associado à regulação do sistema endocanabinoide, modulando a percepção da dor sem causar os mesmos efeitos adversos dos opiáceos.
3. Efeitos colaterais e segurança
O desenvolvimento de um medicamento busca, essencialmente, comprovar sua eficácia e garantir sua segurança. Contudo, o conceito de segurança é relativo, pois qualquer substância pode ser benéfica ou prejudicial a depender da dose e do perfil do paciente.
Nesse contexto, a margem de segurança indica a distância entre a dose geralmente eficaz e aquela que pode provocar efeitos colaterais graves ou mesmo colocar a vida em risco.
O efeito colateral é qualquer resposta do organismo a um medicamento que não faz parte do objetivo principal do tratamento. Ele pode ocorrer mesmo quando a substância é administrada corretamente, em doses terapêuticas, ou seja, dentro das quantidades recomendadas para tratar uma condição específica.
Tipos de efeitos colaterais:
- Adversos: Ocorrem quando geram prejuízo ao paciente, como náuseas decorrentes de antibióticos, sonolência excessiva provocada por anti-histamínicos ou o risco de dependência associado ao uso prolongado de opioides.
- Benéficos: Em alguns casos, um efeito não intencional pode trazer benefícios. Certos antidepressivos, por exemplo, além de tratarem a depressão, podem aliviar dores neuropáticas.
A intensidade dos efeitos colaterais varia conforme o indivíduo, a dose administrada e possíveis interações com outros medicamentos.
Comparação dos efeitos colaterais: Opioides x Cannabis
- Opioides: Possuem riscos elevados de sedação, depressão respiratória, dependência e overdose, sendo uma das principais causas da crise de opioides em diversos países.
- Cannabis: Pode causar sonolência, boca seca e tontura, mas não apresenta risco significativo de depressão respiratória fatal, tornando-se uma alternativa potencialmente mais segura em comparação aos opioides.
4. Dependência e tolerância
Ao longo do uso contínuo de certos medicamentos, como opioides e outros agentes que atuam no sistema nervoso central, podem surgir dois fenômenos importantes: tolerância e dependência. Embora estejam relacionados, possuem diferenças fundamentais.
- Tolerância
A tolerância ocorre quando o organismo se adapta ao medicamento, reduzindo sua eficácia ao longo do tempo. Isso significa que, para obter o mesmo efeito terapêutico, é necessário aumentar a dose gradualmente.
- Dependência
A dependência ocorre quando o organismo se torna fisiologicamente adaptado ao medicamento, resultando em sintomas de abstinência quando o uso é reduzido ou interrompido.
Resumindo:
- Os Opioides: Apresentam rápida tolerância e alto potencial de dependência, o que pode levar ao uso excessivo e à crise de overdose observada em diversos países.
- A Cannabis: Embora possa levar a tolerância em alguns casos, seu risco de dependência é consideravelmente menor do que o dos opioides e não está associado a sintomas graves de abstinência física.
Os opioides continuam sendo fundamentais para o tratamento de dores intensas e agudas, mas apresentam riscos consideráveis. Já a cannabis medicinal surge como uma alternativa ou complemento para casos de dor crônica, inflamatória e neuropática, com um perfil de segurança mais favorável.
A decisão entre os dois tratamentos deve ser feita sob supervisão médica, considerando a condição do paciente e o equilíbrio entre benefícios e riscos.
Quais pesquisas ou estudos clínicos que apoiam o uso da cannabis sobre os opioides no tratamento da dor?
Há uma série de estudos e revisões científicas que investigam o uso de cannabis no tratamento da dor. Abaixo, apresentamos algumas referências e achados relevantes:
1. Revisões e análises gerais
- Whiting PF, et al. “Cannabinoids for Medical Use: A Systematic Review and Meta-analysis.” JAMA. 2015;313(24):2456-2473. Revisão que avaliou 79 estudos sobre uso de canabinoides para fins médicos. Concluiu haver evidências moderadas de que os canabinoides podem ser eficazes no alívio de dores crônicas, sobretudo neuropáticas.
- National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. “The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids: The Current State of Evidence and Recommendations for Research.” Washington, DC: The National Academies Press, 2017. Relatório abrangente que compila evidências sobre benefícios e riscos da cannabis medicinal, reconhecendo eficácia na dor crônica, embora ressalte a necessidade de estudos de melhor qualidade metodológica.
2. Estudos sobre redução do uso de opioides
- Bachhuber MA, et al. “Medical Cannabis Laws and Opioid Analgesic Overdose Mortality in the United States, 1999-2010.” JAMA Intern Med. 2014;174(10):1668-1673. Análise observacional que indicou associação entre a existência de leis de cannabis medicinal nos estados norte-americanos e a redução das taxas de mortalidade por overdose de opioides. Embora não comprove causalidade direta, sugere que a disponibilidade de cannabis medicinal possa diminuir o uso abusivo de opioides.
- Nielsen S, et al. “Opioid-Sparing Effect of Cannabinoids: A Systematic Review and Meta-Analysis.” Neuropsychopharmacology. 2017;42(9):1752-1765. Reuniu evidências de que a administração de canabinoides pode ter um efeito “poupador de opioides”, ou seja, pode permitir o controle da dor com doses menores de opioides, reduzindo riscos associados a esses medicamentos.
Embora ainda sejam necessários mais ensaios clínicos de longo prazo e com amostras maiores, alguns trabalhos já sugerem benefícios da cannabis ou de seus derivados para o manejo da dor crônica, bem como uma redução no uso (e, consequentemente, nos riscos) dos opioides.
Como os pacientes podem acessar tratamentos baseados em cannabis e opioides de maneira segura e legal?
Para obter acesso seguro e legal a tratamentos à base de cannabis e opioides, os pacientes devem contar com a orientação de um profissional de saúde especializado que possa avaliar o quadro clínico e indicar a terapia mais adequada. Tanto os opioides quanto a cannabis medicinal exigem prescrição médica.
O uso responsável dessas substâncias envolve seguir rigorosamente as recomendações médicas e evitar qualquer alteração, compartilhamento ou interrupção do tratamento sem supervisão profissional.
A cannabis medicinal pode contribuir para uma melhora na qualidade de vida dos pacientes que sofrem com dores crônicas ao reduzir a intensidade da dor e, em alguns casos, permitir menor uso de opioides.
Além da ação analgésica e anti-inflamatória, alguns estudos apontam que os canabinoides podem auxiliar no controle de sintomas como ansiedade, insônia e náuseas, problemas comuns em pacientes submetidos a tratamentos oncológicos ou que lidam com dores de difícil manejo.
Essa combinação de alívio da dor e melhor controle de sintomas emocionais e físicos pode resultar em maior bem-estar e, consequentemente, em uma melhor qualidade de vida.
Entretanto, é imprescindível que o uso da cannabis seja orientado por um profissional de saúde, com dose e formulação adequadas, para garantir segurança e eficácia, além de respeitar as legislações e normativas em vigor.



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A cannabis medicinal pode substituir os opioides no tratamento da dor?
Sim, a cannabis medicinal tem se mostrado uma alternativa eficaz no manejo da dor crônica, especialmente em casos de dor neuropática e inflamatória. Estudos indicam que seu uso pode reduzir a necessidade de opioides, minimizando os riscos de dependência, overdose e efeitos colaterais graves. No entanto, a decisão deve ser feita sob orientação médica.
A cannabis medicinal é mais segura do que os opioides?
Sim, a cannabis medicinal apresenta um perfil de segurança mais favorável do que os opioides. Enquanto os opioides podem causar depressão respiratória fatal, dependência severa e sintomas intensos de abstinência, a cannabis tem efeitos colaterais mais leves, como sonolência e boca seca, sem risco significativo de overdose.
O uso de cannabis medicinal pode reduzir a crise dos opioides?
Pesquisas indicam que a legalização da cannabis medicinal está associada à redução do uso de opioides e à diminuição das mortes por overdose. O efeito “poupador de opioides” da cannabis permite que pacientes utilizem doses menores de opioides para o controle da dor, reduzindo os riscos associados.
Quais são os principais efeitos colaterais da cannabis medicinal e dos opioides?
Os opioides podem causar sedação intensa, constipação, náuseas, depressão respiratória e dependência. Já a cannabis medicinal pode provocar boca seca, tontura, sonolência e, em alguns casos, alterações cognitivas leves, mas sem o risco fatal dos opioides.
Como conseguir cannabis medicinal legalmente no Brasil?
No Brasil, a cannabis medicinal pode ser adquirida por meio de prescrição médica. O paciente deve ter um laudo que justifique o uso e seguir a regulamentação da Anvisa para importação ou compra em farmácias autorizadas. O uso recreativo continua proibido.