- O glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo, afetando cerca de 900 mil brasileiros, muitos sem diagnóstico devido ao caráter silencioso da doença.
- Está relacionado principalmente à pressão intraocular elevada, mas também pode ocorrer mesmo com pressão normal. Os sintomas são progressivos e geralmente começam com perda da visão periférica, podendo evoluir para cegueira total.
- O canabigerol (CBG), vem sendo estudado como potencial aliado no tratamento do glaucoma. Ele atua em três frentes principais: reduz a pressão intraocular ao melhorar o escoamento do humor aquoso, exerce ação neuroprotetora sobre o nervo óptico e favorece a vasodilatação ocular, promovendo melhor irrigação dos tecidos oculares.
- O CBG interage com os receptores CB1 e CB2 do sistema endocanabinoide. Os CB1 estão presentes no sistema nervoso central e regulam dor, humor e outras funções; já os CB2 atuam no sistema imunológico e modulam inflamações.
No Brasil, estima-se que cerca de 900 mil pessoas convivam com a doença — muitas vezes sem diagnóstico, já que o glaucoma evolui de forma silenciosa e progressiva, comprometendo gradualmente o nervo óptico.
Mas como exatamente o CBG pode ajudar? Antes de explorar suas propriedades terapêuticas, é essencial entender o que é o glaucoma e de que forma ele afeta a visão.
Afinal, o que é o glaucoma?
O glaucoma é uma doença ocular crônica que compromete diretamente o nervo óptico — estrutura essencial para a visão, responsável por transmitir os impulsos captados pela retina até o cérebro.
Essa condição está geralmente relacionada à perda progressiva das células da retina, o que pode reduzir o campo visual ao longo do tempo e, nos casos mais avançados, levar à cegueira.

Um dos principais fatores de risco para o surgimento do glaucoma é a elevação da pressão intraocular.
A pressão intraocular elevada é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do glaucoma, pois pode comprometer a integridade do nervo óptico ao longo do tempo. No entanto, é importante entender que o diagnóstico da doença não depende apenas da medição dessa pressão.
Não existe um valor exato de pressão ocular que, por si só, determine a presença ou ausência do glaucoma. Algumas pessoas podem desenvolver a doença mesmo apresentando níveis de pressão considerados normais — o chamado glaucoma de pressão normal. Por outro lado, há indivíduos com pressão ocular acima da média que nunca chegam a manifestar danos no nervo óptico — uma condição conhecida como hipertensão ocular.
Essas variações mostram que a suscetibilidade ao dano ocular causado pela pressão interna varia de pessoa para pessoa.
Quais são os sintomas do glaucoma?
O glaucoma é considerado uma doença silenciosa, especialmente em seus estágios iniciais, quando não apresenta sintomas perceptíveis. Por isso, muitas pessoas só descobrem o problema quando ele já está em fase mais avançada.
Um dos primeiros sinais é a perda da visão periférica — aquela que nos permite enxergar ao redor, fora do foco central. No início, essa perda pode ser sutil e passar despercebida. Com o tempo, ela se acentua e pode evoluir para a chamada “visão tubular”, quando o paciente enxerga apenas o que está diretamente à sua frente, como se olhasse por dentro de um tubo.
Essa alteração costuma se tornar evidente quando a pessoa começa a tropeçar com frequência, esbarrar em objetos ou ter dificuldade para se locomover, justamente pela ausência da visão lateral. Sem tratamento, o campo de visão vai se estreitando cada vez mais, até comprometer de forma significativa a qualidade de vida.
Por isso, é fundamental procurar um oftalmologista ao perceber qualquer mudança na visão. O diagnóstico precoce é a melhor forma de preservar a visão e evitar danos irreversíveis.
De que forma o CBG ajuda no glaucoma?
Pesquisas iniciais sugerem que o CBG pode contribuir de forma significativa no manejo da doença por meio de três mecanismos principais:
- Redução da pressão intraocular, promovendo o escoamento mais eficiente do humor aquoso (líquido interno do olho);
- Ação neuroprotetora, ajudando a preservar as células da retina e o nervo óptico, que são afetados ao longo da progressão do glaucoma;
- Melhora da vasodilatação ocular, favorecendo a circulação sanguínea nos tecidos oculares e contribuindo para a saúde visual geral.
Esses efeitos são, em grande parte, mediados pela ativação dos receptores canabinoides do tipo CB1, especialmente em regiões oculares sensíveis à regulação da pressão intraocular e da inflamação.
Para entender melhor como o CBG exerce essas ações, é preciso observar sua interação com o sistema endocanabinoide — uma rede complexa que participa da manutenção do equilíbrio interno do organismo.
Como o CBG atua no organismo?
O canabigerol (CBG) exerce seus efeitos terapêuticos ao interagir com os dois principais receptores do sistema endocanabinoide: os receptores CB1 e CB2.
- Os receptores CB1 estão concentrados principalmente no sistema nervoso central, especialmente no cérebro. Eles estão envolvidos na regulação de funções como dor, humor, memória, coordenação motora e apetite.
- Os receptores CB2, por sua vez, são encontrados principalmente no sistema imunológico e em tecidos periféricos. Sua ativação está associada à modulação de processos inflamatórios e à resposta imune do organismo.
O CBG se liga a esses receptores de forma mais sutil que outros canabinoides, como o THC. Ao contrário do THC, que pode causar efeitos psicoativos por ativar fortemente os receptores CB1 no cérebro, o CBG não altera o estado de consciência e, por isso, não é considerado psicoativo.
Embora seus efeitos sejam geralmente mais suaves do que os do canabidiol (CBD), o CBG vem demonstrando grande potencial terapêutico, especialmente por sua capacidade de modular a inflamação, proteger neurônios e interagir com outros receptores além dos canabinoides, como os do tipo TRP (transient receptor potential), envolvidos na dor e na regulação da temperatura.
Além do glaucoma, o que mais o CBG pode tratar?
Embora o CBG tenha se destacado por seu potencial no tratamento do glaucoma, suas propriedades terapêuticas se estendem a diversas outras áreas da saúde. Estudos pré-clínicos indicam que esse fitocanabinoide pode atuar em condições neurológicas, inflamatórias, infecciosas e até oncológicas, ampliando significativamente seu campo de aplicação clínica.
Confira algumas das principais propriedades já observadas:
- Ação anti-inflamatória: o CBG tem demonstrado eficácia em doenças inflamatórias intestinais, como a colite, ajudando a modular a inflamação e a reduzir sintomas desconfortáveis;
- Efeito analgésico: apresenta potencial no alívio de dores crônicas e neuropáticas, podendo ser utilizado como alternativa ou complemento aos analgésicos tradicionais;
- Neuroproteção: pesquisas sugerem que o CBG pode ajudar a proteger neurônios contra danos, sendo promissor na prevenção ou desaceleração da progressão de doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer;
- Ação antibacteriana: estudos apontam sua eficácia contra bactérias resistentes, como o Staphylococcus aureus (MRSA), uma ameaça crescente no ambiente hospitalar;
- Estímulo do apetite: ao contrário do CBD, que pode inibir o apetite, o CBG tende a estimulá-lo — o que pode ser especialmente útil para pacientes em tratamento oncológico ou com distúrbios alimentares.
Evidências científicas sobre o CBG no tratamento do glaucoma
Um estudo publicado por Tomida et al. (2004) no British Journal of Ophthalmology, intitulado Cannabinoids and glaucoma, analisou os efeitos de diferentes canabinoides — incluindo o canabigerol (CBG) — sobre a pressão intraocular e o nervo óptico.
Os resultados demonstraram que compostos como o CBG apresentaram efeito hipotensor ocular em modelos animais, especialmente por facilitarem o escoamento do humor aquoso, fluido essencial para a regulação da pressão dentro do olho.
Outro trabalho relevante, intitulado Ocular Conditions and the Endocannabinoid System e disponível na plataforma SpringerLink, aborda a influência do sistema endocanabinoide (SEC) em diversas condições oftalmológicas, com ênfase especial no glaucoma.
O estudo explora como a ativação dos receptores canabinoides CB1 e CB2, presentes nos tecidos oculares, pode modular processos fisiológicos fundamentais — como a produção e a drenagem do humor aquoso —, impactando diretamente na pressão intraocular (PIO). Além disso, destaca os potenciais efeitos neuroprotetores dos canabinoides, sugerindo que a modulação do SEC pode trazer benefícios em doenças oculares de caráter degenerativo.
O capítulo também chama atenção para as limitações do uso clínico dos canabinoides, especialmente do tetrahidrocanabinol (THC), ressaltando a necessidade de estudos mais robustos que comprovem sua eficácia e segurança em comparação às terapias oftalmológicas convencionais.
A conclusão da obra reconhece o potencial terapêutico dos canabinoides, em especial pela atuação nos receptores CB1 e CB2, mas reforça que as evidências ainda são preliminares, baseadas principalmente em pesquisas pré-clínicas com modelos animais ou em estudos in vitro.
Ensaios clínicos randomizados sobre o uso de canabinoides no tratamento do glaucoma
A seguir, destacam-se os principais estudos disponíveis até o momento:
1.Estudo de Mosaed et al. (2021)
Este ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo avaliou os efeitos da cannabis inalada na PIO de adultos saudáveis. Os resultados indicaram uma redução significativa da PIO, porém de curta duração — entre 2 a 4 horas.
No entanto, o uso da cannabis também resultou em efeitos colaterais sistêmicos, como taquicardia e alterações na pressão arterial, o que limita seu potencial de aplicação clínica, especialmente em pacientes com doenças cardiovasculares ou em uso contínuo de medicamentos.
2.Estudo de Tomida et al. (2006)
Neste estudo piloto, seis pacientes com hipertensão ocular ou glaucoma de ângulo aberto em estágio inicial receberam doses sublinguais de Δ9-THC e CBD.
O Δ9-THC demonstrou capacidade de reduzir temporariamente a PIO, enquanto o CBD não apresentou efeito significativo. Curiosamente, em doses mais elevadas, o CBD chegou a aumentar a pressão intraocular em alguns pacientes.
Os autores destacaram a necessidade de mais estudos controlados para compreender os mecanismos envolvidos e os potenciais riscos do uso de diferentes canabinoides em pacientes com glaucoma.
3.Revisão sistemática de Joshi et al. (2024)
Em uma análise abrangente da literatura científica, os autores concluíram que, embora existam evidências de que alguns canabinoides podem reduzir a PIO, os efeitos são de curta duração, e ainda não há formulações oculares bem estabelecidas para uso clínico seguro e eficaz.
A revisão ressalta que, até o momento, as evidências disponíveis são insuficientes para recomendar o uso rotineiro de canabinoides no tratamento do glaucoma.
Considerações finais
O CBG (canabigerol) tem se destacado como um composto promissor no campo da oftalmologia, especialmente no enfrentamento do glaucoma — uma doença silenciosa e progressiva que compromete a visão de milhões de pessoas em todo o mundo.
Sua capacidade de atuar na redução da pressão intraocular, somada ao potencial neuroprotetor e anti-inflamatório, oferece uma nova perspectiva terapêutica, sobretudo para pacientes que não respondem de forma satisfatória aos tratamentos convencionais.
Por não ser psicoativo, o CBG apresenta um perfil de segurança considerado favorável, o que o torna uma alternativa interessante para quem busca opções naturais com menor risco de efeitos colaterais cognitivos.
Ainda assim, é importante reconhecer que as evidências sobre sua segurança e eficácia em humanos ainda são limitadas. Não se pode descartar possíveis riscos, especialmente em populações mais vulneráveis — como gestantes, idosos ou pessoas com condições crônicas — ou quando utilizado em associação com outros medicamentos.
Por isso, o uso do CBG deve sempre ser acompanhado por orientação médica, considerando as características e necessidades individuais de cada paciente, bem como a possibilidade de interações medicamentosas.
Vale reforçar que o CBG não substitui os tratamentos tradicionais para o glaucoma, como os colírios à base de prostaglandinas ou betabloqueadores, que seguem sendo a primeira escolha recomendada pelas diretrizes médicas atuais.



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O que é o CBG e como ele atua no organismo?
O CBG (canabigerol) é um fitocanabinoide presente na planta Cannabis sativa. Ele interage com o sistema endocanabinoide por meio dos receptores CB1 (ligados ao sistema nervoso central) e CB2 (relacionados ao sistema imunológico), sem causar efeitos psicoativos. Sua ação é conhecida por regular inflamações, proteger neurônios e contribuir para o equilíbrio do organismo.
O CBG pode ajudar no tratamento do glaucoma?
Sim. Estudos indicam que o CBG pode reduzir a pressão intraocular, atuar como neuroprotetor do nervo óptico e melhorar a circulação ocular. Essas ações são especialmente relevantes para o glaucoma, que compromete gradualmente a visão ao danificar o nervo óptico.
CBG tem efeitos colaterais ou é seguro para uso ocular?
O CBG é considerado seguro, especialmente por não ser psicoativo. No entanto, os estudos clínicos em humanos ainda são limitados. Por isso, seu uso deve ser feito sob orientação médica, principalmente em pessoas com outras condições de saúde ou que utilizam medicamentos contínuos.
Qual a diferença entre CBG e THC no tratamento do glaucoma?
Ao contrário do THC, que é psicoativo e pode causar efeitos adversos como taquicardia, o CBG não altera o estado de consciência e possui ação mais suave, mas com grande potencial terapêutico, especialmente na redução da pressão intraocular e na proteção do sistema nervoso ocular.
O CBG pode substituir os colírios tradicionais usados para glaucoma?
Não. O CBG ainda está em fase de estudo e não substitui os tratamentos oftalmológicos convencionais, como colírios à base de prostaglandinas ou betabloqueadores. Pode ser considerado um complemento terapêutico, mas sempre com acompanhamento médico.
O que dizem os estudos sobre CBG e glaucoma?
Pesquisas como as de Tomida et al. (2004) e Mosaed et al. (2021) mostram que o CBG ajuda a reduzir temporariamente a pressão intraocular, especialmente em modelos animais. No entanto, os efeitos ainda são de curta duração e carecem de mais testes clínicos em humanos para comprovar sua eficácia segura a longo prazo.
CBG é legalizado no Brasil?
A utilização do CBG no Brasil ainda é regulamentada pela Anvisa, principalmente sob prescrição médica e em produtos autorizados. A legislação está em constante atualização conforme novas evidências científicas são publicadas.