- O CBD é um composto natural da Cannabis sativa, que não causa efeitos psicoativos e interage com o sistema endocanabinoide, auxiliando no equilíbrio de funções como humor, sono e dor;
- Estudos em crianças com epilepsias resistentes indicam que o uso terapêutico do CBD, em doses controladas e com acompanhamento médico, não compromete a função cognitiva e pode reduzir crises convulsivas;
- O CBD não é indicado para qualquer problema de comportamento infantil, pois não há comprovação científica para todos os casos;
- Doses muito altas podem ter efeito contrário, e o CBD pode interagir com outros medicamentos, exigindo ajustes personalizados e supervisão médica constante para garantir segurança e eficácia.
O que é Canabidiol (CBD)?
O canabidiol, conhecido pela sigla CBD, é um canabinoide encontrado na planta Cannabis sativa. Tem se destacado como uma alternativa terapêutica promissora, especialmente em tratamentos que buscam alívio de sintomas sem os efeitos colaterais associados ao uso recreativo da cannabis.
Como o CBD age no organismo?
O canabidiol (CBD) atua no sistema endocanabinoide, um conjunto de receptores presente em todo o corpo humano, cuja função principal é manter o equilíbrio (homeostase) de diversas funções essenciais, como humor, sono, apetite, resposta ao estresse, dor e sistema imunológico.
Além disso, o CBD também interage com receptores de serotonina — neurotransmissor associado à regulação do humor e ao bem-estar emocional. Por esse motivo, estudos têm demonstrado que o CBD pode contribuir para a redução de sintomas de ansiedade, melhora da qualidade do sono e promoção de uma sensação geral de calma, sem provocar alterações na consciência ou gerar dependência.
Esse conjunto de propriedades faz com que o canabidiol desperte cada vez mais interesse como uma potencial ferramenta de apoio à saúde mental, especialmente em casos de estresse, insônia e transtornos de ansiedade.
Mitos comuns sobre o uso de CBD na infância
Vamos analisar os principais mitos e o que a ciência já sabe sobre eles.
1.O CBD atrasa o desenvolvimento cognitivo da criança — Mito ou realidade?
Mito. Até o momento, não há evidências científicas robustas de que o uso terapêutico de CBD, em doses apropriadas e sob supervisão médica, provoque atrasos ou prejuízos ao desenvolvimento cognitivo infantil.
Pelo contrário, estudos com crianças que apresentam epilepsias refratárias demonstram que o CBD pode reduzir significativamente a frequência das crises convulsivas, sem comprometer a função cognitiva.
Por exemplo, um estudo publicado na revista Epilepsy & Behavior avaliou crianças com epilepsia resistente ao tratamento que receberam CBD por um ano.
Os resultados mostraram que não houve alterações significativas na função cognitiva ou nas habilidades adaptativas dessas crianças após o tratamento.
Outro estudo de fase II, intitulado “Seizure frequency, quality of life, behavior, cognition, and sleep in pediatric patients enrolled in a prospective, open-label clinical study with cannabidiol”, demonstrou que o uso de CBD em crianças com epilepsia de difícil controle reduziu significativamente a frequência das crises convulsivas.
Além disso, observou-se melhora em aspectos comportamentais, como irritabilidade e hiperatividade, bem como avanços na cognição e na qualidade do sono — sem evidência de comprometimento da função cognitiva.
2.“O CBD causa dependência ou vício” — Mito ou realidade?
Mito. Até onde a literatura científica atual demonstra, o canabidiol (CBD) puro não possui potencial para causar dependência ou vício quando usado em doses terapêuticas e sob supervisão médica.
Em maio de 2018, a OMS publicou um parecer no qual afirma que, em humanos, o CBD “não exibe efeitos indicativos de potencial de abuso ou dependência” e que “até o momento não há evidências de problemas de saúde pública associados ao uso de CBD puro”.
Um estudo divulgado pela Harvard Health citou dados de ensaios em que o CBD isolado não produziu alterações no desempenho cognitivo nem em marcadores de tolerância ou abstinência, reforçando sua segurança e ausência de efeitos viciantes.
3. “O CBD é indicado para qualquer problema de comportamento infantil” — Mito ou realidade?
Mito. Atualmente, não existe respaldo científico que justifique o uso de CBD para qualquer tipo de transtorno ou problema de comportamento em crianças.
As indicações terapêuticas de CBD em pediatria são muito restritas e baseadas em evidências sólidas somente para epilepsias refratárias específicas, não para queixas comportamentais genéricas.
Além disso, é fundamental lembrar que o comportamento infantil é multifatorial — envolvendo aspectos emocionais, familiares, sociais e neurológicos — e nem sempre deve ser medicalizado.
Em muitos casos, a abordagem mais adequada envolve acompanhamento multidisciplinar com psicólogos, terapeutas ocupacionais, neuropediatras ou psiquiatras infantis.
- Quanto maior a dose, melhor o efeito do CBD” — Mito ou realidade?
Mito. O CBD apresenta efeito bifásico, isto é, doses baixas e moderadas podem ser mais eficazes para certo benefício terapêutico, enquanto doses muito elevadas podem reduzir esse efeito ou até causar respostas contrárias.
Para obter resultados clínicos, é fundamental buscar a janela terapêutica – a faixa de dose em que o CBD é eficaz sem perda de benefício – e sempre contar com supervisão médica.
Implicações práticas para dosagem
- Start low, go slow: recomenda-se iniciar com doses baixas e só aumentá-las gradualmente, observando a resposta individual.
- Ajuste personalizado: cada pessoa metaboliza o CBD de modo diferente; por isso, uma dose ótima para um pode ser excessiva para outro.
5. “Por ser natural, o CBD não tem contra indicações” — Mito ou realidade?
Apesar de ser um composto natural extraído da planta Cannabis sativa, o CBD é uma substância bioativa e, como qualquer composto com ação no organismo, pode apresentar efeitos adversos ou interações com outros medicamentos.
Em crianças, os cuidados devem ser ainda maiores, já que o organismo está em desenvolvimento e pode responder de forma diferente a determinados tratamentos.
Por exemplo, em relação às interações medicamentosas: o CBD inibe as enzimas do citocromo P450 (CYP3A4 e CYP2C19), o que pode alterar os níveis sanguíneos de fármacos administrados concomitantemente — como anticoagulantes (por exemplo, varfarina), antiepilépticos (por exemplo, clobazam) e alguns ansiolíticos.
A importância do tratamento individualizado
Cada criança possui uma história, um organismo e necessidades únicas. Por isso, não existe um tratamento “padrão” que funcione para todos — especialmente quando se trata de condições como autismo, TDAH, epilepsias ou ansiedade infantil.
O uso do Canabidiol, quando indicado, deve fazer parte de uma estratégia personalizada, construída com base no diagnóstico, na intensidade dos sintomas, na resposta aos tratamentos anteriores e no contexto familiar.
Um tratamento individualizado considera:
- As particularidades clínicas da criança;
- Seu histórico de saúde e desenvolvimento;
- A presença de outras condições associadas (comorbidades);
- As necessidades emocionais, sociais e escolares;
- E a resposta ao acompanhamento terapêutico multidisciplinar.
A combinação cuidadosa de terapias, com o uso responsável do CBD quando apropriado, aumenta significativamente as chances de progresso e qualidade de vida. O protagonismo da família e o apoio profissional adequado são fundamentais nesse processo.
Considerações finais
O canabidiol (CBD) representa uma das alternativas terapêuticas mais discutidas da atualidade no cuidado com crianças que apresentam epilepsias refratárias, transtornos do espectro autista, TDAH e distúrbios relacionados ao sono e à ansiedade.
No entanto, o crescente interesse pelo CBD também trouxe consigo uma série de mitos, exageros e informações distorcidas, que podem gerar falsas expectativas e até riscos à saúde infantil quando mal interpretadas.
Como vimos ao longo deste conteúdo, o CBD não é uma solução mágica nem substitui os tratamentos convencionais. Seu uso deve ser restrito a casos bem avaliados, com acompanhamento médico especializado, dentro de uma abordagem terapêutica ampla, individualizada e baseada em evidências.
Em vez de ser visto como uma “cura”, o CBD pode, em determinadas situações, funcionar como um aliado importante no controle de sintomas, contribuindo para o bem-estar e o desenvolvimento da criança.
É fundamental que pais, cuidadores e profissionais da saúde estejam atentos à qualidade dos produtos, à legalidade da aquisição e, principalmente, à orientação técnica adequada para cada caso. O protagonismo da família, aliado ao acompanhamento clínico contínuo e à informação responsável, é o que garante decisões mais seguras e eficazes.
Entre a esperança e a ciência, o equilíbrio é o melhor caminho.

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O que é o CBD e para que serve em crianças?
O canabidiol (CBD) é um composto natural extraído da planta Cannabis sativa. Ele não causa efeitos psicoativos e tem se destacado como um potencial aliado terapêutico, especialmente para crianças com epilepsias refratárias, ajudando a reduzir crises convulsivas sem comprometer o desenvolvimento cognitivo.
O CBD atrasa o desenvolvimento cognitivo infantil?
Não. Segundo estudos científicos confiáveis, o CBD usado em doses apropriadas e com acompanhamento médico não causa atrasos ou prejuízos ao desenvolvimento cognitivo de crianças. Pelo contrário, pode contribuir para a redução de crises em epilepsias resistentes sem alterar a cognição.
O CBD pode causar dependência ou vício em crianças?
Não. De acordo com pareceres de instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o CBD puro não tem potencial para causar dependência ou vício quando usado de forma controlada e com supervisão médica.
Posso dar CBD para qualquer problema de comportamento infantil?
Não. O uso de CBD não tem comprovação científica para tratar comportamentos ou transtornos genéricos em crianças. Ele só deve ser indicado em casos específicos, como epilepsias refratárias, e sempre como parte de uma abordagem multidisciplinar.
É verdade que quanto maior a dose de CBD, melhor o efeito?
Não. O CBD possui efeito bifásico: doses muito altas podem não trazer benefícios e até causar efeitos indesejados. Por isso, recomenda-se iniciar com doses baixas e ajustar gradualmente, com orientação médica, para encontrar a dose ideal para cada criança.
O CBD pode interagir com outros medicamentos?
Sim. O CBD pode interferir no metabolismo de outros medicamentos ao inibir enzimas do fígado (CYP3A4 e CYP2C19). Isso pode alterar a eficácia de remédios como anticoagulantes e antiepilépticos. Por isso, é essencial o acompanhamento médico.
É seguro usar o CBD em crianças apenas por ser natural?
Não necessariamente. Mesmo sendo natural, o CBD é bioativo e pode ter efeitos adversos ou interações medicamentosas. Cada caso deve ser avaliado individualmente por profissionais de saúde.
Qual a melhor forma de usar o CBD em crianças?
O uso do CBD em crianças deve fazer parte de um plano de tratamento personalizado, levando em conta o histórico clínico, comorbidades, necessidades emocionais e sociais, e sempre com supervisão médica. O objetivo é integrá-lo de forma segura e responsável, sem substituir terapias convencionais.