Nos últimos anos, a Cannabis tem sido objeto de pesquisas conduzidas por instituições científicas e médicas em diversos países, em razão de sua composição química complexa, que inclui mais de uma centena de fitocanabinoides, além de terpenos e flavonoides com potenciais benefícios terapêuticos.
Entre esses compostos, o canabidiol (CBD) tem se destacado, despertando crescente interesse da comunidade científica e do público em geral, por suas propriedades neuroprotetoras, anti-inflamatórias e ansiolíticas, bem como no seu potencial clínico no tratamento de diversas doenças neurológicas.
O avanço dos estudos sobre o CBD tem impulsionado mudanças na legislação do uso medicinal da Cannabis em diversos países, incluindo o Brasil, onde a Anvisa tem estabelecido diretrizes para a prescrição e comercialização de produtos à base de canabinoides.

O que é cannabis medicinal?
A cannabis medicinal refere-se ao uso terapêutico da Cannabis, cujos benefícios são atribuídos principalmente aos fitocanabinoides, compostos bioativos presentes na planta.
Dentre esses compostos, os mais estudados são o canabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC). Embora ambos possuam propriedades terapêuticas, diferem significativamente em seus efeitos, mecanismos de ação e aplicações clínicas.
O que é canabidiol?
O canabidiol (CBD) é um dos compostos químicos encontrados na planta Cannabis sativa. Ele pertence ao grupo dos canabinoides, substâncias que interagem com o sistema endocanabinoide do corpo humano, influenciando diversas funções fisiológicas.
O CBD está presente em maior concentração no cânhamo, uma variedade da Cannabis sativa caracterizada por seu baixo teor de THC (tetrahidrocanabinol), o principal responsável pelos efeitos psicoativos da planta. Diferentemente do THC, o CBD não provoca efeitos psicoativos, atuando como um modulador do sistema endocanabinoide.
Para que serve o canabidiol?
Atualmente, o canabidiol (CBD) é prescrito para o tratamento de diversas condições médicas, incluindo epilepsia refratária, dor crônica, ansiedade e espasticidade associada à esclerose múltipla. Seu potencial terapêutico tem sido amplamente estudado em diferentes áreas da medicina, com evidências promissoras para transtornos neurológicos, psiquiátricos e inflamatórios.
O CBD apresenta múltiplos efeitos terapêuticos, destacando-se por suas propriedades anticonvulsivantes, ansiolíticas, antioxidantes e anti-inflamatórias. Já o tetrahidrocanabinol (THC), outro canabinoide presente na Cannabis sativa, é reconhecido por suas ações analgésica, estimulante do apetite e antiemética (antienjoo).
Além de seu uso medicinal, a Cannabis possui aplicações industriais e comerciais em setores diversos. Seus derivados podem ser utilizados na fabricação de tecidos, plásticos biodegradáveis, biocombustíveis, alimentos e até mesmo ração animal.
O uso do canabidiol é seguro?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza o uso de medicamentos à base de canabidiol, desde que prescritos por médicos habilitados e adquiridos de forma controlada. Essa regulamentação reforça a segurança do seu uso.
Os efeitos colaterais do canabidiol tendem a ser mais leves em comparação com os de muitos medicamentos alopáticos tradicionais. Ao contrário dos opioides, que podem causar dependência, sedação intensa e até risco de overdose, o CBD é geralmente bem tolerado. Entre os efeitos adversos mais comuns estão sonolência, alterações no apetite, diarreia e fadiga, que costumam ser leves e transitórios.

Como o CBD age no organismo?
O sistema endocanabinoide (SEC) é um componente biológico essencial para a manutenção do equilíbrio interno do organismo, desempenhando um papel fundamental na homeostase — o processo que garante a estabilidade do ambiente interno mesmo diante de mudanças externas.
O sistema endocanabinoide contém receptores CB1 e CB2, distribuídos pelo cérebro, sistema nervoso e diversos órgãos. O CBD age como um modulador indireto desse sistema, contribuindo para a regulação do equilíbrio corporal.
Além de interagir com o SEC, o CBD também se conecta a outros receptores e possui uma potente ação antioxidante. Essa propriedade ajuda a reduzir o estresse oxidativo e a proteger os neurônios contra danos causados por radicais livres, inflamação e processos degenerativos. Esses efeitos explicam seu potencial terapêutico em doenças neurodegenerativas, como Parkinson, Alzheimer e esclerose múltipla.
Como o CBD é metabolizado?
O CBD (canabidiol) é metabolizado principalmente no fígado, onde sofre processos de biotransformação antes de ser eliminado pelo organismo. Esse metabolismo ocorre principalmente através do sistema enzimático do citocromo P450 (CYP450), um conjunto de enzimas hepáticas responsáveis pela degradação de diversas substâncias, incluindo fármacos.
O impacto de Charlotte Figi na legalização do canabidiol
Charlotte Figi foi uma menina americana diagnosticada com a síndrome de Dravet, uma forma rara e grave de epilepsia resistente a tratamentos convencionais. Desde muito jovem, ela sofria até 300 convulsões por semana, o que comprometia gravemente sua qualidade de vida. Seus pais, Paige e Matt Figi, tentaram inúmeros medicamentos e terapias sem sucesso até descobrirem um extrato de cannabis rico em CBD e com baixo teor de THC, desenvolvido pelos irmãos Stanley, no Colorado (EUA).
Esse extrato recebeu o nome de "Charlotte’s Web", em homenagem à menina, e os resultados foram impressionantes: as convulsões de Charlotte diminuíram drasticamente, permitindo-lhe recuperar funções cognitivas e melhorar sua qualidade de vida.
O caso ganhou notoriedade global em 2013, após ser destaque em um documentário da CNN, apresentado pelo Dr. Sanjay Gupta, médico e jornalista renomado. A repercussão ajudou a impulsionar o debate sobre o uso medicinal do CBD e contribuiu para mudanças na legislação sobre cannabis medicinal nos Estados Unidos e em outros países.
Infelizmente, Charlotte faleceu em 7 de abril de 2020, aos 13 anos, devido a complicações de saúde agravadas por uma infecção respiratória, possivelmente relacionada à COVID-19.
Apesar de sua partida, Charlotte deixou um legado significativo:
- Mudança na percepção pública – Seu caso ajudou a transformar a visão da sociedade sobre o CBD, que passou a ser amplamente reconhecido por seus benefícios terapêuticos.
- Impulso à legalização – A história de Charlotte contribuiu para mudanças na legislação em diversos países, permitindo a regulamentação do uso medicinal da cannabis e o acesso a tratamentos à base de CBD.
- Avanço da pesquisa científica – A repercussão mundial de seu caso gerou um aumento no interesse e no financiamento de estudos clínicos sobre o CBD, impulsionando novas descobertas sobre suas aplicações terapêuticas.
Estudos científicos sobre o potencial terapêutico do canabidiol
Estudos preliminares sugerem que o CBD pode apresentar efeitos analgésicos, anti-inflamatórios, ansiolíticos e neuroprotetores, entre outros, ampliando as possibilidades de tratamento para diversas condições de saúde, como ansiedade, epilepsia, dor crônica e doenças neurodegenerativas. Entre os trabalhos que vêm se destacando, podemos mencionar:
- "Efeitos do Canabidiol na Frequência das Crises Epilépticas: Uma Revisão Sistemática" - Este estudo concluiu que o uso terapêutico do canabidiol está associado à redução na frequência de crises epilépticas, além de melhorar a qualidade de vida em indivíduos com epilepsia refratária.
- "Canabidiol: seu uso terapêutico no tratamento da Epilepsia" - Este artigo discute a eficácia do canabidiol, destacando seu potencial farmacológico e efeitos anticonvulsivantes validados, com redução na frequência das crises.
- "O uso do canabidiol como terapia alternativa no tratamento da epilepsia com ênfase na infância: uma revisão integrativa" - Este estudo analisa o uso do CBD como terapia alternativa ao tratamento anticonvulsivante em pacientes com epilepsia, especialmente em crianças, e observa uma redução significativa nas crises epilépticas.
- "Canabinoides em Neurologia" - Publicado pela Academia Brasileira de Neurologia, este artigo menciona que resultados preliminares mostraram uma redução de 50% nas crises em cerca de 40% dos pacientes que utilizaram CBD.
- "O Potencial Terapêutico do Canabidiol no Tratamento da Epilepsia" - Este artigo recente discute ensaios clínicos controlados que demonstraram que o CBD pode reduzir a frequência das crises em pacientes que não respondem a medicamentos convencionais.

Possíveis efeitos colaterais do canabidiol (CBD)
O canabidiol (CBD) é conhecido por apresentar um perfil de segurança relativamente favorável, especialmente quando comparado a alguns medicamentos alopáticos convencionais. Ainda assim, como qualquer substância com ação farmacológica, o CBD pode provocar reações adversas em certos usuários. A seguir, destacamos os principais efeitos colaterais relatados em estudos clínicos e na prática médica:
Sonolência e fadiga: Embora seja apreciado por seu potencial ansiolítico e relaxante, o CBD pode causar sonolência em alguns indivíduos, sobretudo em doses mais elevadas.
Essa sonolência pode estar associada à fadiga, indicando que o usuário pode precisar ajustar a dosagem ou o horário de administração para evitar impacto em suas atividades diárias.
Alterações no apetite: Alguns usuários relatam aumento ou diminuição do apetite durante o uso do CBD.
É importante monitorar essas mudanças, especialmente em pessoas com condições de saúde que exijam controle de peso ou dieta específica.
Diarreia: Esse sintoma pode ocorrer principalmente em indivíduos mais sensíveis ou quando há ingestão de doses elevadas de CBD.
Geralmente, a diarreia é temporária e pode ser minimizada com ajustes na dosagem ou na forma de consumo (por exemplo, optar por produtos de espectro amplo ou isolados).
Tontura ou vertigem: Pode surgir em decorrência de quedas bruscas de pressão arterial ou outros ajustes fisiológicos no organismo.
Se esse sintoma persistir, recomenda-se consultar um médico para avaliar possíveis interações medicamentosas ou ajustes na dosagem.
Boca seca: Esse efeito pode estar relacionado à inibição das glândulas salivares pelo CBD. Beber água regularmente e manter boa hidratação ajuda a amenizar o desconforto.
Possíveis interações medicamentosas O CBD é metabolizado pelo fígado, principalmente por meio do sistema enzimático do citocromo P450 (CYP450).
Assim, ele pode alterar a forma como o organismo processa outros medicamentos, tornando-se essencial informar o médico sobre qualquer fármaco em uso para evitar interações indesejadas.
Alterações de humor ou irritabilidade: Embora menos frequente, algumas pessoas podem experimentar mudanças de humor ou irritabilidade em função de como o CBD interage com o sistema endocanabinoide.
Esse efeito pode estar relacionado à dosagem, ao perfil individual de cada paciente ou a possíveis desequilíbrios químicos pré-existentes.
Como minimizar os efeitos adversos
- Comece com doses baixas e aumente gradualmente: Essa estratégia, conhecida como “start low, go slow”, permite ao organismo se adaptar ao CBD, reduzindo a probabilidade de efeitos colaterais.
- Opte por marcas confiáveis: A pureza e a qualidade do produto são fatores decisivos para evitar reações adversas. Escolha produtos de fabricantes que adotem boas práticas de fabricação e possuam certificações de qualidade.
- Acompanhe com um profissional de saúde: Sempre consulte um médico, principalmente se você já faz uso de outros medicamentos. Um profissional habilitado poderá recomendar a forma de administração, dosagem e frequência ideais para cada caso.
- Monitore o seu corpo: Fique atento a qualquer alteração incomum ou persistente e relate ao seu médico para os ajustes necessários no tratamento.
Conclusão
Apesar de o CBD ser geralmente bem tolerado e oferecer um perfil de segurança mais favorável do que muitas terapias convencionais, é fundamental estar ciente dos possíveis efeitos colaterais. A adoção de boas práticas no consumo — como acompanhamento médico, uso de produtos de qualidade e monitoramento constante — contribui para minimizar riscos e maximizar os benefícios que o canabidiol pode proporcionar.
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O que é o canabidiol (CBD) e por que ele se destaca?
O canabidiol (CBD) é um composto químico encontrado na planta Cannabis sativa, reconhecido por suas propriedades neuroprotetoras, anti-inflamatórias e ansiolíticas. Ele se destaca na Cannabis medicinal por não produzir efeitos psicoativos (ao contrário do THC) e por demonstrar potencial terapêutico em condições como epilepsia refratária, dor crônica e ansiedade.
Como o CBD age no organismo e qual a relação com o sistema endocanabinoide?
O CBD atua como modulador indireto do sistema endocanabinoide (SEC), que ajuda a manter a homeostase no corpo. Ele se liga aos receptores CB1 e CB2 distribuídos pelo cérebro, sistema nervoso e vários órgãos, contribuindo para o equilíbrio interno. Além disso, o CBD tem ação antioxidante, protegendo neurônios contra radicais livres e processos inflamatórios.
Para que serve o CBD e quais são seus principais benefícios terapêuticos?
O canabidiol (CBD) serve para o tratamento de diversas condições de saúde, como epilepsia refratária, ansiedade, dor crônica e inflamações. Seus principais benefícios incluem propriedades anticonvulsivantes, ansiolíticas, anti-inflamatórias e neuroprotetoras, que podem melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças neurológicas e psiquiátricas.
Quais são os possíveis efeitos colaterais do canabidiol?
Embora o CBD seja geralmente bem tolerado, alguns efeitos colaterais podem ocorrer: sonolência, fadiga, alterações no apetite, diarreia, tontura e boca seca. Em casos mais raros, podem ocorrer interações medicamentosas e alterações de humor. A melhor forma de minimizar esses efeitos é iniciar com doses baixas e fazer um acompanhamento médico adequado.
O uso de canabidiol é seguro e regulamentado pela Anvisa?
Sim. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamenta o uso de medicamentos à base de canabidiol no Brasil, exigindo prescrição médica e controle de aquisição. Seguir as orientações de um profissional de saúde habilitado é fundamental para garantir a segurança e eficácia do tratamento, já que ele também poderá avaliar possíveis interações medicamentosas.